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A.E. Zaluar

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Augusto Emílio Zaluar nasceu em Lisboa, em 14 de fevereiro de 1826, e morreu no Rio de Janeiro, em 03 de abril de 1882. Filho de José de Oliveira Zaluar. Foi escritor, tradutor, poeta. Ainda em Portugal, começou seus estudos em medicina, mas sua vocação em literatura foi mais forte. Escreveu para vários jornais em sua terra natal, entre os quais, EpochaJardim das Damas e Revista Popular. Em janeiro de 1850, chegou ao Rio de Janeiro às vésperas de completar 24 anos. Em 1855 tornou-se cidadão brasileiro ao se naturalizar, vindo a trabalhar como amanuense no Ministério da Justiça. No Brasil, exerceu a profissão de jornalista escrevendo e contribuindo para alguns jornais. Escreveu para o Diário do Rio de Janeiro e Correio Mercantil alguns folhetins bastante apreciados, onde assinava respectivamente com a inicial de seu sobrenome, Z, e com o pseudônimo Hegesippo. Foi trabalhar na cidade de Santos, como redator na publicação intitulada Civilização. Voltando ao Rio de Janeiro, mais precisamente à Petrópolis, fundou, com Quintino Bocayuva, o periódico O Parayba onde foi redator chefe. A diversidade de temas compõe sua vida literária: traduziu peças para o teatro, escreveu livros cujo tema era as questões econômicas e administrativas do Brasil. Destacamos algumas de suas obras: publicou em 1851, Dores e flores, versos; Revelações, poesias, em 1862; Peregrinações na Província de São Paulo, impressões de viagens; Uruguaiana, poema, em 1865. Em 1866, escreveu o drama intitulado O Cofre de Tartaruga. Em 1875, escreveu o romance-científico O Dr. Benignus, considerado uma de suas melhores obras. Colaborou com o periódico O Cysne, com uma de suas poesias intitulada, “É tarde”.


É tarde!


É forçoso… não posso por mais tempo
Conter a acerba dor que me lacera;
Tem limites o humano soffrimento,
Que há de ao coração dizer–espera?


Esperar! Quando sinto a cada instante
As minhas illusões desvanecer-se;
E de meu peito ao arquejante abalo
Pouco a pouco a existencia desprender-se!


Esperar! Quando vejo que a fortuna
Que sonhava tão alto em meu transporte
Se converte em promessa enganadora,
Pois onde cria a vida, encontro a morte!


Esperar! Tu não sabes o que pedes;
Não pesáste o valor dessa palavra!
É tarde! é muito tarde! Agora em chammas
O incendio fugaz devora e lavra!


E tiveste a coragem reflectida,
De fria calcular os meus tormentos,
E rir do meu soffrer! rir de ti mesma!
E zombar dos mais santos pensamentos?!


Tao moça e tao descrente! Onde aprendeste
Essa lição fatal do desengano?
A duvida que pousa junto ás campas,
Revelou-te no berço o negro arcano?


Oh! não, não acredito em teus receios:
O meu provado amor já não se ilude;
Tu pões a gloria tua em ser-me infensa
Eu em ser-te fiel minha virtude?


Tu calculas, invocas mil pretextos,
Pensas, refflectes com socego e calma;
Sujeitas á rasão teus sentimentos;
Os meus são expontaneos da minh’alma.


E’s feliz! Foste tu quem o disseste:
Gosa em paz essa maxima ventura;
Não irão perturbar os teus praseres
Os queixumes da minha desventura!


Um dia, talvez digas, se a memoria
Do meu amor na mente conservares;
“Extremos como os seus nunca mais tive!
Matou-o o meu desprezo e seus pezares!”


Em: O Cysne, anno1,n.1(maio 1864)



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