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O Beijo: jornal litterario, artistico e recreativo dedicado ao bello sexo

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico O Beijo: jornal litterario, artistico e recreativo dedicado ao bello sexo era propriedade de Santos & Renner, e foi lançado no Rio de Janeiro, Capital Federal, no dia 19 de julho de 1896.  Santos & Renner referem-se aos senhores Leonardo dos Santos, Victorino dos Santos e Mauricio Renner.

Publicação semanal, foi impressa pela Typographia Moraes, localizada no número 35, da rua de S. José, local onde também funcionava a redação de O Beijo.

No cabeçalho, logo abaixo do título, aparecem os nomes dos responsáveis pela publicação: secretário A. Rocha, o redator-chefe foi Eduardo de Lima e o gerente foi  J. Theodorico. Tudo indica que os proprietários e redatores foram ex-alunos do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, instituição de ensino fundada em 1856.

Acima do título, em letra manuscrita, está grafado o destinatário de O Beijo: “À Bibliotheca Nacional. Rua do Passeio”. No ano de 1858 a Biblioteca Nacional foi transferida de onde fora inicialmente acomodada – nas casas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, um local que havia servido de catacumba para os Religiosos do Carmo – para a rua do Passeio, onde hoje funciona a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Permaneceu ali até 1910, quando é inaugurado o atual prédio, na então avenida Central, hoje, avenida Rio Branco.

A coleção preservada na Biblioteca Nacional está na Coordenação de Publicações Seriadas, mas seus exemplares podem ser pesquisados na Hemeroteca Digital. São 16 fascículos, sendo o último, o número 21 de 6 de dezembro de 1896. Faltam os números de 2 a 5 e o número 18. Assinado por “A Redação”, e endereçado “Ás leitoras”, eis o editorial:

Pequenino, mas respeitoso, no vosso lar hoje penetra, todo alegre e festivo, curvando-se reverente, ante os sabios e velhos mestres, implorando-os – benevolencia – O BEIJO inoffensivo.
Politica não fará, senão com as suas leitoras, prosa ou verso sempre terá, leitura recreativa que seja toda moral, que instrua e delicie e, um pouco de critica litteraria ou artistica.
Adestrados não somos nas lides deste genero, nem nunca pelejamos na velha e sublime imprensa que instrue, defende e a todos moralisa.
A missão acarretada, tão forte como a de Christo com a sua pesada cruz, pretendemos cumpril-a, embora semanalmente.
Em verdade, facil não é, pois é já muito sabido, que correr no papel a pena para uteis cousas serem ditas, em materia litteraria, não é para todos, nem felicidade; a menos que não queiram a grammatica assassinar.
Feita pois está, a nossa apresentação terminando rogamos aos nossos collegas toda benevolencia para O BEIJO; que pequenino começa, até na sua fórma.

Medindo 20cm x 26cm, com quatro páginas em cada exemplar, divididas em três colunas separadas por um fio simples, O Beijo apresentou uma única ilustração, o desenho do busto de Carlos Gomes, na capa do número 10, publicado no dia 20 de setembro, quatro dias após a morte do importante compositor de ópera. Acompanha um longo texto de despedida, que assim inicia: “A arte musical chora hoje a perda de um filho illustre que soube pelo seu talento litterario e artístico enobrecer a sua patria e elevar no estrangeiro o nome brasileiro”.

O Beijo não apresentou valor para venda avulsa. A assinatura trimestral valia 1$000 e para a semestral, o valor cobrado era de 3$000. Aos assinantes era permitido enviar colaboração, com texto de até uma coluna.

Publicou, contos, poesias, charadas, pensamentos e crônicas. Publicou também a tradução da “romancete” “A Filha do Tecelão”, de Emile Richebourg, traduzido por Eduardo de Lima.

Em suas páginas estão alguns classificados, que faziam propaganda dos patrocinadores. Uma particularidade, a maior parte das propagandas são acompanhadas de versos dedicados ao anunciante. Por exemplo, a propaganda da tipografia responsável pela execução do periódico, traz, logo abaixo do nome e endereço da tipografia, a seguinte quadrinha: “Nesta Typographia, / Todo o trabalho se faz; / Se quereis obra de luxo, / Vinde á cada do Moraes.”

Alguns colaboradores de O Beijo assinavam com pseudônimos. Dentre os colaboradores encontrados em suas páginas, podemos citar Alfredo Martini, Abotip, A. Rocha, Candido Cardoso, J. Brito, Dr. Buffo, Chico, Eugenio de Barros, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva (1831-1911), Henrique Rebello e Mila. A seguir a poesia “Um sonho” de Julio C. Leal Junior.

Um sonho

Deitado em uma rede assim estava
Quando o somno roubou-me o pensamento,
Dormindo, inda me lembro que sonhava
Subindo c’uma virge’ao firmamento.

Chegando a esta altura já cansados,
Eu loucamente ardia em mil desejos;
Em seus labios rubentes delicados
Depuz me lembro com fervor dois beijos.

Ella ficára mais rubificante.
Inda mais louco d’amor ficára eu,
Quis de novo beijal-a mas sorrindo...
Disse: eis o coração elle é só teu.

Ouvindo em minha porta alguem bater
Levantei-me assustado e perguntei:
Quem é? e ouvi distinctamente
Meiga a voz da mulher com quem sonhei.

Fui correndo ligeiro a porta abrir
Procurando ver assim se a encontrava...
Era tudo illusão, tudo mentira,
Eu estava dormindo inda sonhava.

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