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O Paladino: orgão do Club D. Alumnos de Minerva

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico O Paladino foi lançado na cidade do Rio de Janeiro em 28 de maio de 1881. “Folha litteraria e recreativa”, recebeu o subtítulo de órgão do Club D. Alumnos de Minerva.

O cabeçalho informa que a folha literária é “redigida por uma commissão de sócios”. São os sócios do “Club Dramatico Alumnos de Minerva”, um clube de teatro amador fundado em janeiro de 1881 e que teria existido até 1884. No subtítulo do periódico a palavra “Dramático”, se apresenta como a letra “D.” em abreviatura, o que nos levou a pesquisar outras informações que confirmassem o nome real.

Impresso pela Typographia Restauração, de C. do Amaral Vasconcellos, que estava situada à rua de S. Pedro, 102. O escritório da redação localizava-se nesta mesma rua, no número 152, no edifício do Clube.

Na Biblioteca Nacional podem ser consultados os quatro exemplares de O Paladino. O exemplar de número quatro, último da coleção foi publicado no dia 10 de setembro daquele ano.

O editorial, redigido por Assis Vieira, articula sobre a maneira de divertir os associados do clube e homenagear os atores. Dialoga com os leitores numa tentativa de procurar seu espaço:

O jornal que surge hoje á tona da publicidade é uma affirmação solemne de que o Club D. Alumnos de Minerva, ao influxo benéfico de uma directoria bem intencionada, caminha desassombradamente na larga e fecunda estrada do mais adiantado progresso.
Resultado dos esforços da mocidade intelligente do Club, a qual comprehendeu que não bastava seguir o movimento progressivo nas suas manifestações materiaes, mas que o espírito devia tambem acompanhar este movimento nas suas rápidas e sucessivas evoluções. O Paladino não vem na vasta arena da imprensa jornalistica levantar uma tenda de combate nem empunhar a buzina da propaganda em favor de uma opinião ou de uma vontade. Não, o seu intento é muito mais modesto: - Quer apenas proporcionar aos associados do Club uma agradavel diversãopara a intelligencia, e procurar na proporção das limitadas forças dos seus emprehendedores prestar uma justa e devida homenagem aos gloriosos vultos que têm honrado a arte dramática, e para os quaes a pátria só tem tido uma recompensa: O esquecimento pelos mortos e a indifferença pelos vivos. [...]
Despreoccupado de interesses e sem compromissos de outras idéas que não sejão aquellas que o originarão, o Paladino, á sombra d’aquelle nome glorioso, ensaia os primeiros passos na senda espinhosa do jornalismo. Se fôr bem succedido, que os louros e os applausos deste tentamen, se porventura os merecer, revertão á já gloriosa existencia do Club de que se constitue orgão; se, ao contrario, desamparado pelo favor dos nossos consócios fenecer, que ao menos reste aos seus emprehendedores a satisfação de ter-lhes publicamente testemunhado que a sua dedicação não mede esforços nem pesa sacrifícios quando se trata de elevar mais e mais o grêmio social, o qual deve justamente ufanar-se de ter em seu seio uma mocidade tão esperançosa quanto distincta.


Assis Vieira também é autor das matérias de capa das quatro edições. O Paladino foi diagramado em três colunas divididas por um fio simples. Não apresenta ilustrações.

Seu conteúdo está voltado para as artes, especialmente a arte dramática. Publica inúmeros poemas, crônicas e notícias do que acontecia pelos teatros do Rio de Janeiro de então. Uma seção intitulada Biographia apresenta um detalhado ensaio biográfico do “gênio portentoso que se chamou - João Caetano”. Outra homenagem a João Caetano aparece na capa do último exemplar: um poema em página inteira de autoria de Assis Vieira enaltecendo “a eterna e gloriosa memoria do príncipe da scena brazileira”.

Colaboraram em O Paladino, com notícias ou crônicas: E. Godinho, J. Rebello, Julio Moreno e Juvenal Terencio, além do editor. E nos poemas temos as assinaturas de Assis Vieira, Castro, Chiquinho, Christovão Ayres, Georgino, Hugo Leal, Julio Moreno, Jurino, Moura Bastos, N. de Araujo, Santos Tavares, Stelo e Zoroastro.

Escolhemos para ilustrar um soneto de Assis Vieira publicado no primeiro exemplar que homenageia a imprensa.

A Imprensa

Obreira do progresso! Na batalha incessante
Que dás ao crime, ao erro, á treva e ao despotismo,
E quebras do passado os laços do empirismo,
Vibrando da justiça o gladio flamejante;

Tu – que galgas o espaço e levas bem distante
Os arrojados vôos do pensamento humano,
Que proteges o fraco e esmagas o tyiranno
E dessa lucta immerges altiva e triumphante;

Ah! deixa que se acerque do teu poder ingente
O novo Paladino que segue vacilante
Da tua glória immensa a trilha refulgente.

Acolhe-o á tua sombra – potente e generosa,-
Envolve-o nos clarões da tua luz brilhante...
E encaminha-lhe os passos á méta gloriosa!

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