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Emiliano Perneta

por Maria do Sameiro Fangueiro


Emiliano David Perneta nasceu em 03 de janeiro de 1866, em Pinhais, atualmente região metropolitana de Curitiba, e morreu em Curitiba em 19 de janeiro de 1921. Foi jornalista, advogado, escritor e professor. Era filho de Francisco David Antunes e de Cristina Maria dos Santos. A procedência do apelido Perneta originou-se pelo defeito físico que seu pai tinha e foi desta forma que a família tornou-se conhecida. Francisco era comerciante, e dos seus cinco filhos, dois se destacaram na arte literária, Emiliano e Julio David Perneta (1869-1921), ambos, poetas e escritores.

Seus primeiros estudos foram feitos em sua cidade natal, primário e o secundário. Foi ali, que deu inicio a sua trajetória de escritor, colaborando para alguns jornais da cidade. Em 1885, ao concluir o curso secundário, foi viver em São Paulo, para cursar a Faculdade de Direito, na qual se formou em 1889.

Emiliano foi o redator de A Vida Semanaria, publicação de 1887, editado pela Typografia King. Este periódico raro pode ser encontrado na Biblioteca Nacional. Dois anos depois, isto é, em 1889, obteve a propriedade de A Quinzena Paulista : letras e artes, ao lado de Pacheco Netto, impressa e distribuída pela Typografia Província, e como a publicação anterior, faz parte da coleção de periódicos raros.

Nesse ínterim, sempre com o objetivo de divulgar temas ligados as artes e literatura, ele se uniu a Afonso de Carvalho, Carvalho Mourão e Edmundo Lins para juntos organizarem e fundarem a Folha Literária, em 1888.

Em 1890 um ano após sua formatura, Emiliano mudou-se para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1893. Regressando a Curitiba em 1902, organiza uma nova revista, Victrix de sofisticada produção editorial. Nesse empreendimento, Emiliano, contou com a ajuda de seus irmãos Julio Pernetta, escritor e político (1869-1921) e João Pernetta, político, (1874-1933), entre outros colaboradores A Livraria Econômica, colaborou, sendo responsável por sua edição e distribuição. A Biblioteca Nacional possui três exemplares desta revista

Defensor da causa republicana e a luta pelo abolicionismo, Emiliano manifestava seus anseios e ideais libertários ao publicar seus artigos em jornais e periódicos da época. Ao mesmo tempo em que divulgava suas idéias políticas, não esquecia que era também um literato, mantendo produção ativa. Em 1911, lançou Illusão, pela Livraria Econômica. Dois anos depois, publicou Papilio Innocentia, libreto operístico baseado no romance Inocência, do visconde de Taunay (1843-1899), e em 1914, Pena de Talião. Há em sua obra um libreto de ópera infantil, A Vovozinha, de 1917. Postumamente, em 1934, foi lançada Setembro, e Illusao e outros poemas, pela Edições Festa.

Emiliano, fundou com Euclides Bandeira (1876-1947), o Centro de Letras do Paraná, exercendo o cargo de presidente entre 1913 até 1918, o Centro foi fundado em 19 de dezembro de 1912, em Curitiba.

Em sua homenagem, Paulo Roberto Karam (1941- ), organizou o livro Emiliano Perneta : biografia, antologia II. Publicação encontrada no acervo da Biblioteca Nacional, no Setor de Obras Gerais.


Dois poemas de sua autoria ilustram este texto:


SONETO

Nada pôde egualar o meu destino agora
Que o furor me feriu com um tyrso de marfim.
Vede, não me contenho, o abutre me devora,
Com as suas mãos que são de nácar e jasmin...

Meu sangue flue, meu sangue ri, meu sangua chora,
E espadana-se como o vinho d'um festim.
Não ha frauta que toque mais desesp'radora;
Ninguém o vê correr, mas elle não tem fim.

Possuísse ao menos eu o dom de tránsformal-a
Numa folha, no alóes, no vento frio, no mar,
Elia que inda é mais fria e branca do que a opala...


Mas nada, nem siquer ao menos eu, torcido
O tronco nu, o gesto doido, o pé no ar,
Hei de vêr Salomé dançar como S. Guido!

Em: Victrix, n.2, nov.1902


Dor

Noite. O CEO, como um peixe, o turbilhão desova
De estrellas a fulgir. Desponta a lua nova.

Um silencio espectral, um silencio profundo,
Dentro de uma mortalha immensa, envolve o mundo.

Humilde, no meu canto, ao pé dessajanella,
Pensava, ó Solidão,como tu eras bella,

Quando do seio nu, do avelludado seio
Da noite, que baixou, a Dor sombria veiu.

Toda de preto. Traz uma mantilha rica;
E por onde ella passa, o ar se purifica.

De invisível caiçola o incenso trescalla,
E o fumo sóbe, ondêa, invade toda a sala.

Ao vel-aapparecer, tudo se transfigura,
Como que resplandece a própria noite escura.

E a claridade em flôr da lua, quando nasce.
São horas de soffrer. Que a dor me despedace.

Que se feche em redor todo o vasto horizonte,
E eu ponha a mão no rosto, e curve triste a fronte.


[..........................................]

Tu, sempre, para mim, mesmo apesar de tudo,
Envolta nesse manto escuro de velludo,

Dentro desse fulgor de imperatriz suprema.
Em cuja fronte brilha um aureo diadema,

Gentilissimo algoz, e senhora absoluta,
Que tens nas mãos reaes a taça de cicuta,

Divindade cruel, monstro delicioso,
Serás o meu desejo, o meu eterno gozo.


Em: America Latina: revista de arte e pensamento. Anno1,n.6, jan.1918

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