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Brazil americano

por Maria Ione Caser da Costa
Brazil americano, publicação semanal que veio a público no da 7 de julho de 1875 e foi impresso pela Typographia Cosmopolita, localizada no número 19, da rua de Gonçalves Dias. A publicação não apresenta os nomes dos responsáveis que, no editorial, informam aos leitores o que pretendem partilhar e o que esperam receber em retribuição. A seguir um excerto do texto:

Consubstancia-se perfeitamente no titulo que adoptamos o pensamento que nos anima; somos brasileiros, e queremos ser americanos.
Já de ha muito não no ilude mais a actualidade de nossa terra e cada dia que se passa vem ajuntar mais uma decepção ás tantas que já tem soffrido nossa legitima aspiração de cidadãos livres em uma patria independente.
Usos e costumes, modo de governo e administração publica, feição litteraria e movimento scientifico, tudo importamos sem criterio, e aqui na propria terra assoberba-nos a influencia extranha, ignobil, porque se baseia no egoísmo commercial, nossa inimiga, porque só convém ás transacções a doce paz de Varsovia. [...]
E a despeito do ridiculo e da chufa que nos atirem, a despeito de quanta suspeita injuriosa nos quizerem fazer alvo, havemos de proseguir com a tranquilidade que dá uma consciencia limpa e só descançaremos quando afinal, sendo brazileiros,sejamos também americanos.

Em nota que antecede o editorial, está a informação que os editores aceitam “o concurso de todas as intelligencias que, ou por adesão aos nossos principios, ou pelo bem publico, quizerem colaborar nestas columnas”.

O número avulso de Brazil americano foi vendido pelo valor de 100 réis, tanto para a corte como para as províncias. A assinatura trimestral valia 2$000, e exigia-se pagamento adiantado.

Estão preservados na Biblioteca Nacional os trinta primeiros exemplares, que podem ser consultados na Hemeroteca Digital. O último da coleção, o número 30, foi publicado no dia 14 de março de 1876, mas possivelmente houve continuação, pois o mesmo não menciona qualquer notícia sobre interrupção e o folhetim indica que continuaria no número seguinte. Este fascículo foi impresso pela Tipographia H. J. Pinto, localizada na rua do Hospício, nº 218.

Brazil americano foi um periódico de cunho político, defendendo o progresso da nação. Publicou crônicas, poesias e folhetim, que eram distribuídos nas seguintes seções: Chronica Politica, Chronica Local, Imprensa Nacional, Sciencias e Lettras, Bibliographia e Folhetim. Na seção Bibliographia, do número 23, publicado no dia 20 de dezembro de 1875, está uma crítica do livro de poesias “Americanas” de Machado de Assis.

Alguns de seus colaboradores: Aquino Fonseca, J. Mariano de Oliveira, J. de Serqueira, Jacques Senna, Joaquim Heleodoro, Joaquim Tupaberara, José Pereira Leitão Junior (?-1875), Luiz Leitão e Mariano de Oliveira.

A seguir a poesia “Endeixas”, de Leitão Junior, poeta que integrava os colaboradores de Brazil Americano, e falece abruptamente, como pode ser conferido no exemplar publicado dois dias após seu falecimento: “José Pereira Leitão Junior, nosso amigo e companheiro de trabalho, é mais uma esperança malograda, mais uma força extincta, mais uma voz que emudeceu e um coração que se gelou eternamente para o paíz, para a familia e para os amigos!”

Endeixas

Quando o labio gentil da donzellinha
Meigamente falar-me carinhoso,
E eu souber que na curta ausencia minha
Geme e soluça o coração saudoso;

- Ai, dir-lhe-hei, eu quero-te, formosa,
Socia no riso e sócia na ventura,
De meu sonho de amor foste a ditosa
Visão mais santa de minh’alma pura!

Oh! sim, quero te muito, amo-te tanto
Qual não se ama o pae, a mãe, os céos...
Eu fiz do coração um templo santo
Onde a imagem de amor são risos teus,

Meu Deus, si tu soubesses quanto é doce,
Como é tão curto o tempo que te vejo,
Como tranquilla se conserva a alma
Sem doudas ambições, sem um desejo!

Conheceras então que dos meus sonhos
Es tu a crença, a aspiração sagrada,
Pois só de ver-te o rosto gracioso
Coração, alma e vida volve ao nada.

Mas o labio gentil mudo se cala
O olhar, por distracção, amor affecta
E um dia a virgem compassiva e meiga
Adeus, dirá piedosa, adeus, poeta

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