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A Vida mineira: literatura commercio, indústria e agricultura

por Maria Ione Caser da Costa
A Vida mineira foi uma revista lançada no dia 7 de setembro de 1910, na cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e que recebeu o subtítulo de literatura, commercio, industria e agricultura. O diretor foi Raymundo Porto e o gerente, Julião A. Barros. A redação e a administração da publicação funcionavam no número 1025 da rua da Bahia, mudando, a partir de outubro para o número 1022.

Impressa em papel couché, suas capas e contracapas, são coloridas, enquanto que o seu interior é impresso somente em preto. As capas, coloridas em tons pastéis de azul, vinho ou verde, apresentam um desenho artístico do pintor e arquiteto italiano Luigi Olivieri (1869-1937), que chegou na capital mineira em 1895 para trabalhar na Comissão Construtora da Nova Capital.  As fotos que aparecem n’A Vida moderna são de Olindo Belém (1873-1950), artista e empresário cinematográfico.

Com formato retangular de 22,5cm x 30cm, a revista era dedicada a propagar as belezas e o progresso da cidade, contando também com uma vasta parte literária. O editorial, sem identificação de autoria, faz um esboço do que pretendem seus editores:

 
Em primeiro logar, é mister que pedimos o apoio dos nossos collegas desta Capital, no modesto logar que vamos occupar na vasta arena da imprensa da terra de Tiradentes.
Há muito tempo fazia-se sentir em nosso meio literario, comercial e agricola, a falta de um jornal deste genero, onde a mocidade amante da literatura ou os que labutam no commercio, na industria e na agricultura, pudessem dar expansão aos seus pensamentos, desenvolvendo as suas idéias emprrehendedores em prol do progresso e da grandeza desta terra.
Surge hoje o primeiro numero da “A Vida Mineira”, cuha publicação será bi-mensal. Apresenta-se em publico, despida de ostentação, trazendo em suas columnas o resultado da nossa lucta travada entre a luz e a treva. [...]
“A Vida Mineira” é uma pequena encyclopedia e é por isso que ao lado de uma pagina de literatura, agricultura ou commercio, tratará de um acontecimento politico, sem, comtudo, ferir a sensibilidade de quem quer que seja.
Trataremos também dos nossos patricios mais eminentes e de todos que aqui fizeram o centro de sua atividade honesta.
Se os contemporâneos mineiros nos compreenderem, ajudando-nos a levar além das fronteiras da patria mais uma prova da nossa grandeza material e moral, estaremos certos, que a nossa revista viverá e terá um logar na imprensa desta Capital.
Eis, em ligeiro escorço, esboçado o caminho que “A Vida Mineira” vai seguir.

Revista ricamente ilustrada, publicou fotogravuras de Arthur Bernardes (1875-1955), Carlos Góes (1881-1934), Francisco Salles (1863-1933), Olyntho Meirelles (1864-1948), dentre vários outros, além de inúmeros registros de famílias mineiras e de espaços ao ar livre que poderiam ser aproveitados para o lazer das famílias.

Promoveu o “Primeiro Concurso de Belleza e Elegancia Femininas” de Belo Horizonte, onde só poderiam concorrer “moças solteiras”.

Em todos os fascículos, as primeiras e ultimas páginas estavam repletas de propagandas dos mais variados produtos ou estabelecimentos comerciais.

Colaboraram nas páginas de A Vida mineira, dentre outros, o magistrado e poeta Augusto de Lima Junior (1889-1970), Abilio Barreto (1883-1957), Alfonsus de Guimaraens (1870-1921), Antonio Salles (1868-1940), Carlos Góes (1881-1934), Da Costa e Silva (Antonio Francisco, 1885-1950), Gastão Itabirano (1890-1955) e Lincoln Prates. O poema “Madrigaes”, apresentado a seguir, é de Abilio Barreto.

Madrigaes

 Quando me deito á noite e o pensamento
Vae onde estás e diz me: - Está sosinha!
Murmuro: - como tarda esse momento
Della ser minha, eternamente minha!

Não tarda o somno e, logo após, um sonho
Agita docemente o meu desejo:
Sinto que vem e eu nos seus labios ponho
Um longo, terno e silencioso beijo.

Mas, finda a noite, acordo só no leito.
Foi se-me o sonho, o anceio cresce e eu clamo:
Maldito amor que me lacera o peito!
Maldito amor! E eu sou feliz porque amo...

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