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A Inubia: jornal de ensaios literários

por Maria Ione Caser da Costa
No início dos anos 70, do século XIX circulou no Rio de Janeiro, então capital do Império, o periódico A Inubia: jornal de ensaios literários, editado pela Typographia de Domingos Luiz dos Santos, localizada na rua Nova do Ouvidor, nº 20.

Pode-se observar que naquele período havia um crescimento no número de publicação voltadas para a imprensa literária, visando o enriquecimento da cultura e a difusão da literatura.

Não é possível precisar a data de lançamento de A Inubia, pois não foram encontradas informações a respeito do número 1. Na Seção de Obras Raras da Biblioteca Nacional, estão armazenados dois exemplares: o número 2, publicado no dia 20 de agosto de 1871, e o número 3, publicado em 13 de setembro daquele ano. Este último pode ser consultado na Hemeroteca Digital.

Logo abaixo do título, como epígrafe, está grafada a expressão latina "Ubi desint vires, tamen est laudanda voluntas", que pode ser traduzida como “Onde falta força, ainda assim a vontade é louvável”.

Medindo 33cm x 22cm, com oito páginas, cada uma dividida em três colunas, separadas por um fio simples, inicia o terceiro exemplar com um texto assinado por A. Carlos d’Almeida, que ocupa três páginas e enalte o poeta e jornalista, Antonio Joaquim Franco de Sá (1836-1856). No artigo, o autor transcreve vários trechos de poemas do homenageado e demonstra seu pesar ao escrever: “Como é triste não escutar a vóz daquele que, na noite de 26 de Janeiro de 1856, antes de adormecer no somno eterno murmurou: ‘que noite! que triste noite!’”

Colaboram em A Inubia, assinando com pseudônimo ou com as iniciais de seus nomes, além de A. Carlos d’Almeida, Terentianus Maurus, Brazilico Silvius, Bento Ribeiro Bastos, J. L., Pedro Celidonio Gomes dos Reis e Americo Olimpio d’Almeida.

Sem indicação do responsável pela publicação, encontra-se na última página do fascículo terceiro, o artigo “Chronica da sociedade”, onde se faz menção à “Sociedade Bibliothecaria Recreativa”, que teve como diretor o Sr. Felix Ferreira. No último artigo, com o título “Noticiario” está o seguinte texto:

 
A Sociedade Bibliothecaria, considerando onerosa para si a manutenção deste humilde periodico, resolveu na sessão de 11 do corrente por maioria de votos não continuar com a sua publicação, não nos cumpre esquadrinhar os motivos que pésarão no animo dos illustres socios para uma tal deliberação, não; respeitamos sobre maneira o seu prinunciamento qualquer que tenha sido porque apreciamos devidamente os nobres caractéres que lhe são ornamento; porém o nosso fim é noticiar que, não obstante isto, o jornal continúa a prosseguir na carreira litteraria sob a direção de varos jovens, que, convictos das difficuldades inherentes ás empresas de tal ordem, não pouparão esforços que estiverem a seu alcance para o melhoramento do mencionado jornal.

A seguir um excerto do poema “Sete de Setembro”, de Franco Sá (1841-1906), que é comparado as “odes de Victor Hugo”.


Sete de Setembro

Ao sopro dos ventos, ao som das cascatas,
Em leito pomposo, formado por Deus,
Um indio gigante, nascido nas mattas,
Dormia cercado de mil pigmeus.

De zonas ardentes e frigidas zonas
O vasto collosso se estende através;
Repousa-lhe a fronte no immenso amazonas
E as agoas do Prata murmurão-lhe aos pés.

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