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O Imparcial: orgão do Gremio Litterario Pedro de Abreu

por Maria Ione Caser da Costa
No dia 15 de novembro de 1883 vinha a público, no Rio de Janeiro, o primeiro número do jornal estudantil, O Imparcial: orgão do Gremio Litterario Pedro de Abreu. Foi impresso pela Typographia Economica, que funcionava na “rua de Gonçalves Dias”, nº 28, para onde também deveriam ser endereçadas as correspondências. A partir do nº 6 de 26 de abril de 1884, passa a ser impresso pela Typographia Cosmopolita, situada no nº 156, da rua Theophilo Ottoni.

O Gremio Litterario Pedro de Abreu foi criado no dia 20 de outubro de 1883, quando “uma plêiade de jovens alunos do Imperial Collegio Pedro II reuniu-se e determinou fundar um Gremio que tivesse por insignia o nome de um dos illustres lentes daquele collegio”. Os alunos escolheram “o nome de um dos mais illustrados professores cathedraticos do collegio Pedro II”, para nomear a associação que estavam fundando. Era o Dr. Pedro José de Abreu, formado em filosofia natural pela Universidade de Coimbra, que iniciou no Colégio Pedro II em 1857, como repetidor de uma vaga de matemática, e a partir de 1858, passa no concurso para Cátedra exclusiva de geografia.

Menos de um mês após a criação do Gremio Litterario Pedro de Abreu, lançam O Imparcial, que inicialmente contou com os seguintes alunos na diretoria: como presidente e vice-presidente, Mario Paranhos Pederneiras (1867-1915) e José Guilherme de Moura, respectivamente. Luiz Pedro Barbosa (1870-1949) e Ataliba Borges Ribeiro da Costa foram os 1º e 2º secretários e Pedro Hyppolito Pimentel Duarte foi o tesoureiro. O orador foi Ildefonso C. Lisboa, e Alfredo José do Paço auxiliou o Grêmio como bibliotecário.

O Imperial Collegio Pedro II foi criado por um decreto de 2 de dezembro de 1837, dia do aniversário do Imperador Pedro II. O Colégio utilizou as instalações do antigo Colégio dos Órfãos de São Pedro, local que também havia funcionado o Seminário de São Joaquim, criado em 1739. O Imperial Collégio Pedro II passaria a ser uma escola de instrução secundária, tornando-se local relevante, transmitindo valores culturais e contribuindo para a formação de uma elite erudita. O editorial assim se apresentou:

 
As manifestações do pensamento assim como as producções dos espíritos illustrados ficariam estereis se ellas não pudessem perpetuar-se de um modo qualquer.
Graças, porém, á alavanca do progresso, manejada pela primeira vez pelo engenho possante de Guttemberg, foi possivel não só gravar em termos indeleveis os trabalhos do nosso cérebro, mas tambem reproduzil-os de modo que fosse facil compulsal-os.
Entregando á publicidade as distracções scientificas de nossas intelligencias no principio de seu cultivo, é nosso intuito unicamente illustrarmo-nos pelos estudos que seremos forçados a fazer, para que a nossa pequena publicação possa apparecer.
Não apresentamos programma, para não termos o dissabor de não vel-o cumprido.
As nossas aspirações são poucas, nossos fins são modestos, nossa boa vontade é muita; portanto, esperamos que nossos leitores sejam benevolos, que nossos mestres nos alentem e que a critica seja condescendente.

 O Imparcial vendia suas assinaturas pelos seguintes valores: 200 réis para a mensal, 500 réis para a trimestral e 1$000 ou 2$000 para a semestral ou anual, respectivamente. Os assinantes poderiam enviar suas colaborações para serem publicadas, bem como os sócios do Grêmio.

A coleção preservada na Biblioteca Nacional contempla 12 números, publicados entre os anos de 1883 e 1884. Mais dois números publicados em 1885: um que recebeu a designação numérica de ano 2, n. 2, publicado no dia 30 de abril, e o outro, “numero comemorativo do segundo anniversario do Gremio Litterario Pedro d’Abreu”, publicado no dia 25 de outubro, último da coleção. A última página do exemplar número 2 de 1883, está danificada, faltando parte dela.

O Imparcial publicou o folhetim “A família Agulha”, em capítulos, como era comum à época, publicou também poesias, charadas, acrósticos, anagramas e romances traduzidos.

Colaboraram em suas páginas, além dos organizadores do Grêmio Literário Pedro Abreu, Alexandre Carvalho, J. C. Pimentel Duarte, José Guilherme de Moura, Lima e Cirne, Luiz Pedro Barbosa, Oscar Cesar Burlamaqui, Victoriano Borges Pereira (1861-1932) dentre outros. A seguir o soneto “Somno poetico” de autoria de Acacio de Araujo.

Somno poetico

Oh! como é bello adormecer-se rindo
Nos niveos seios d’uma virgem amada!
Sob uns olhares d’uma luz sagrada,
Entre’esperanças d’um flôrir infindo!

D’uns roseos labios um queixume ouvindo
Entre promenas d’um sorir de fada,
Vellado o rosto pela mão rosada,
Mimosa, fina d’um archanjo lindo!

Quando a alvorada se debruça a meio
Entre as neblinas de gentil aurora
Sentir da virgem os divinaes anceios.

Quando um soluço lh’estremece os seios,
Leito d’amores, que o rubôr colora
Ao som d’um beijo em sensuaes enleios!

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